Percorrer as páginas de 1970-0 Brasil é tri foi voltar ao menino de 11 anos que eu era, aten to às imagens em branco e preto da televisão, na frente da qual se reunia toda a molecada da rua para, pela primeira vez ao vivo, assistir aos jogos da Copa do Mundo de 70. Nos tempos de chumbo que o Brasil enfrentava, começava ali minha paixão pelo futebol - a cada gol, saía para a rua com a bandeira que eu fizera com um lençol velho, inebriado pelo foguetório de uma São Paulo parada pelo futebol. Cinquenta anos depois, carrego o orgu lho de ter conhecido pessoalmente muitos dos tricampeões - entrevistei alguns, trabalhei com outros (Tostão, Leão, Carlos Alberto...) -, a todos reverenciei, agradeci. Foi a “minha" Copa. A partir dali, daquele time, o futebol entrou na minha vida para sempre - virando até parte fundamental da minha profissão. A deliciosa leitura de 1970 - o Brasil é tri também me proporcionou o reencontro com Thiago Uberreich, jornalista com quem tive a chance de trabalhar na redação da Rádio Eldorado, no começo deste século. O jovem repórter brilhante transformou-se num jornalista de primeira grandeza, sem perder seu amor pelo futebol e pela pesquisa, o que só poderia resultar neste trabalho primoroso so bre um dos momentos mais espetaculares da história do futebol mais vitorioso do planeta. A seleção de 70 teve um pouco de tudo. Saiu do Brasil totalmente desacreditada, depois da crise com João Saldanha, que foi demitido após reabilitar a autoestima dos torcedores com suas "feras" em 1969. O país vivia uma ditadura terrível com milhares de brasileiros torturados e mortos sem que a população soubesse. Mas quem sabia, temia pelas ligações do regime com o futebol. Muita gente achava que seria melhor perder. Quando a bola rolou, enchendo os olhos de todos na transmissão ao vivo, mesmo em preto e branco, víamos o jogo colorido vindo dos campos mexicanos. Até os que detestavam o momento político carregado de chumbo não resistiram e se curvaram diante daquele show. E fomos mesmo 90 milhões em ação. Neste resgate da história, o brilhante Thiago Uberreich nos traz momentos lindos, inesquecíveis e impossíveis de serem repetidos. Os brasileiros eram de fato os "reis do futebol". Matei minhas saudades ao ler esta linda obra. A Copa de 70 foi a mais linda. Não apenas porque 90 milhões em ação foram tri, Pelé nunca foi tão Pelé, a seleção nunca se preparou tanto e tão bem, e ele mesmo, Pelé, reconhece que foi o melhor Brasil em que jogou. A Copa de 70 também foi a melhor porque foi o primeiro mundial em que todo mundo pôde ver mesmo a Copa ao vivo pela TV. Preto e branco. Preto no branco. Verde e amarelo também em raros aparelhos de televisão em cores no Brasil. Faz 50 anos que cinco camisas 10 ganharam a Copa e conquistaram eternamente a Jules Rimet e o mundo da bola. Thiago Uberreich faz parecer que está sendo agora. Com a magia do rádio, a força da imagem e o conteúdo que, como aquele mundial, poucas vezes se viu. E você vai ler agora. Com 1970 - o Brasil é tri, Thiago Uberreich coloca novamente em campo a seleção canarinho, o radinho de pilha e a taça Jules Rimet. Depois de 50 anos da conquista do mundial no estádio Azteca, nos transporta para os gramados do México para uma viagem em câmera lenta durante a trajetória vitoriosa daquela que é até hoje considerada a melhor seleção de todos os tempos. Um mergulho na história do tricampeonato e releitura obrigatória para um universo bem maior que aqueles 90 milhões em ação de 1970.